Não, você não leu errado, pode parecer estranho, mas sim, existem pessoas que têm sim, alergia ao aparelho ortodôntico. A boa notícia: ela é relativamente rara. Como saber se você está no grupo de risco e se isso pode te afetar?
Alergia ao aparelho ortodôntico
Na verdade, não é alergia propriamente ao aparelho ortodôntico, mas sim aos materiais que o compõem. O níquel é um dos materiais utilizados com frequência na fabricação de bráquetes e fios utilizados na ortodontia. E uma parcela pequena da população pode apresentar reações alérgicas quando expostas a estes materiais.
Alergia de contato, também conhecida como dermatite de contato, é uma reação inflamatória na pele decorrente da exposição de algum agente irritante. Existem dois tipos, inflamatória e a alérgica, esta última é a causada pelo aparelho ortodôntico.
O organismo de certas pessoas é mais sensível a certas substâncias, no caso o níquel, um dos alérgenos de contato mais comuns. Quando expostas ao níquel presente no aparelho ortodôntico, o sistema imunológico, nosso mecanismo de defesa, é acionado. O problema em pessoas alérgicas é que os mecanismos de defesa do sistema imunológico agem de forma exagerada, atacando com muita força um problema pequeno.
Para se ter uma ideia, aparelhos ortodônticos podem ter de 8% a 50% de níquel na sua composição, uma quantidade significativa se o paciente for alérgico. Na boca, a saliva possibilita reações com o metal do aparelho, que solta produtos com níquel na mucosa da boca e superfícies dentais e que são também engolidos pelo paciente. Normalmente esses produtos não causam nenhum mal, mas podem causar alergia de contato em pessoas sensíveis.
Alergia ao aparelho ortodôntico: sinais e sintomas
A dermatite decorrente da alergia ao aparelho ortodôntico normalmente apresenta como sintomas:
- Coriza (nariz escorrendo)
- Avermelhamento da face e lábios
- Inchaço de tecidos como lábios e bochechas
- Erupções na pele e mucosa da boca
- Úlceras na boca
- Descamação de lábios
- Alterações gengivais
- Gosto metálico na boca
Felizmente, é muito rara uma reação sistêmica, ou seja, que afete outras partes do corpo. Essas reações podem ser severas e afetar a capacidade de respiração do paciente, o que é um risco à vida.
Alergia ao aparelho ortodôntico: mais comum em mulheres
Nos Estados Unidos, estima-se que 0,1 a 0,2% da população apresente sintomas e reações ao níquel nos aparelhos ortodônticos. Por sorte, é uma quantidade muito pequena. Porém, estudos mostram que 20% das mulheres entre os 16 e 35 anos podem estar no grupo de risco, quatro vezes mais que homens na mesma idade.
A alergia ao aparelho ortodôntico é a mesma que muitas pessoas exibem com jóias e bijuterias que contém níquel. Justamente por serem as mulheres quem mais utilizam esses acessórios, elas têm mais chance de saber com antecedência se possuem ou não alergia ao metal.
Alergia ao aparelho ortodôntico: cuidados antes do tratamento
Caso você já tenha passado por alguma reação alérgica com o uso de brincos ou bijuterias, ou suspeite que apresente alergia ao níquel, informe seu ortodontista antes de iniciar seu tratamento. Dessa maneira, vocês dois evitam surpresas desagradáveis.
Se você suspeita mas não tem certeza, pode (e deve) se consultar com um médico especialista em Alergologia para fazer um teste de hipersensibilidade.
A alergia ao níquel presente nos materiais ortodônticos não é contra-indicação ao tratamento. Existem materiais ortodônticos sem níquel que podem ser utilizados nesses casos, então você não precisa se preocupar: seu sorriso está seguro!
Cirurgião-dentista, especialista em ortodontia pela ABO-GO com 10 anos de experiência. Mestre e doutorando em ciências da saúde pela UFG. Professor nas universidades Fasam e Integra, membro da diretoria da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-GO). Credenciado no sistema Invisalign e apaixonado por ensino, música e tecnologia. Artigos publicados neste blog, sites e revistas científicas.