Mini-implante encostou na raiz? E agora?!

8244

Mini-implantes vieram pra mudar a ortodontia. Acho que das grandes novidades que apareceram nos últimos anos, como a tomografia computadorizada de feixe cônico, alinhadores e métodos de aceleração do crescimento, acredito que mini-implantes tiveram o maior impacto na nossa prática clínica.

Mini-implantes possibilitaram a realização de tratamentos que antes só seriam possíveis com extrações. Movimentos que antes eram impossíveis agora podem ser realizados rotineiramente.

Mini-implantes são baratos, práticos e eficientes. Mas são completamente seguros?

Muitos ortodontistas ficam desconfortáveis em instalar um mini-implante, por ser um procedimento cirúrgico (apesar de que um bem simples). E uma das perguntas que os profissionais geralmente encontram é: O mini-implante encostou na raiz. O que acontece?

Quando o mini-implante encosta na raiz

artigo mini-implantes

Uma revisão sistemática pode nos ajudar a responder essa pergunta. Nossos colegas brasileiros Matheus Alves e colegas avaliaram em 2012 579 artigos na literatura. Desses, 11 artigos foram selecionados para responder a pergunta, “o que acontece quando o mini-implante encosta na raiz do dente, ou a perfura?”.

Por motivos éticos óbvios, a maior parte dos estudos foram feitas em animais, mas dois deles foram feitos em humanos. A amostra consistiu de 56 animais e 12 pacientes, num total de 390 mini-implantes. Dois estudos incluídos na revisão foram considerados de alta qualidade metodológica.

Foram avaliados contato com o periodonto, com a raiz e perfuração radicular.

O que eles descobriram?

 

A notícia boa: Raízes que foram danificadas por mini-implantes (sem perfuração da polpa) passam por reparo radicular em boa parte dos casos em um período de 6 a 12 semanas. Isso ocorre em dentes em que lesão e com a remoção imediata do mini-implante. Então podemos ficar tranquilos com dentes em que houve lesão apenas na raiz.

A reabsorção radicular é maior quando o mini-implante se encontra a menos de 0.6 mm da raiz do dente. E nesses casos há maior possibilidade de perda dos mini-implantes (55%).

A notícia ruim: Dentes em que há a presença de perfuração pulpar não têm um prognóstico tão bom. Nesses casos pode haver anquilose e reabsorção radicular, podendo até mesmo não ocorrer nenhum reparo.

Um estudo observou que em 37% dos casos pode ocorrer reparo anormal, com falta de ligamento periodontal, falta de regeneração óssea e anquilose. Isso ocorre com mais frequência em casos de perfuração pulpar.

O que podemos levar para nossa prática?

Essa revisão tem algumas limitações que são inerentes ao tema. Por ser um “acidente”, é difícil achar artigos em humanos que estudam esse tipo de ocorrência. Mas é um tema que é muito interessante pra todos que usam essa técnica.

A qualidade do reparo vai depender da extensão do dano causado pelo TAD. Em condições favoráveis (sem inflamação ou perfuração pulpar), reparo quase completo do ligamento periodontal pode ocorrer, enquanto o dano estiver limitado à dentina e cemento. Nessa questão podemos ficar tranquilos e tranquilizar nossos pacientes.

Mini-implantes que apresentam perfuração pulpar apresentam variados graus de reparo. Eu acredito que uma avaliação endodôntica seria recomendada por segurança.

Na instalação do mini-implante é fundamental que o operador tenha a sensibilidade para entender a diferença entre cortical óssea, osso esponjoso e raiz dentária. É importante que a anestesia seja apenas no nível da mucosa, pois o paciente precisa ser capaz de sentir e nos avisar caso haja contato com a raiz.

Um exame radiológico prévio para a seleção do local é fundamental. Em alguns casos pode ser necessária a divergência das raízes por meio de dobras no fio ortodôntico. Após a instalação do mini-implante, é recomendado mais um exame imaginológico para avaliar a posição do mini-implante.

Eu acredito que nós ortodontistas devemos instalar nossos próprios mini-implantes. É algo novo a se aprender e que pode gerar um pouco de insegurança. Mas nós, melhor que qualquer outro profissional entendemos as nossas mecânicas e a necessidade de ter o controle sobre os vetores de força e suas resultantes. Então entender os riscos dessa técnica e como proceder diante deles é fundamental.


Referências

  1. Alves Jr., M. Baratieri C., Mattos CT. Araújo, MTS. Maia LC. Root repair after contact with mini-implants: systematic review of the literature. Eur J Orthod. 2012 35(4).