O desaparecimento da excelência: a opinião de um ortodontista

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Hoje a postagem é a tradução de um texto muito interessante que li no blog The Orthodontic Notefile, do Dr. Samawi. É um blog interessante, infelizmente está inativo já faz algum tempo. O texto foi escrito a convite pelo Dr. Arnold J. Malermal, professor na Universidade da Pensilvânia. O original em inglês pode ser encontrado aqui.

É um texto interessante e tentei traduzir adaptando um pouco a nossa realidade. Mas tentei manter o sentido original que o autor objetivou. Não concordo com tudo que está escrito, mas ele diz muita coisa que nós deveríamos pensar.


“A diferença entre um bom ortodontista e um ótimo ortodontista está na atenção aos detalhes” – Brainerd Swain, DDS.

Brainerd Swain, um dos meus mentores, era conhecido por dizer que “a diferença entre um bom ortodontista e um ótimo ortodontista está na atenção aos detalhes”. O dr. Swain era, em todos os aspectos, um grande ortodontista. Nas últimas 5 décadas, melhorias em aparelhos ortodônticos, conjuntamente com maior entendimento do crescimento e desenvolvimento dento-facial, resultaram em tempos menores de tratamento, uma redução significante de extrações de dentes permanentes e resultados ortodônticos dramaticamente otimizados.

Nos últimos 15 anos porém, 3 fatores surgiram que conspiram para afetar de maneira adversa o impulso da comunidade ortodôntica por excelência. O primeiro destes é a inserção onipresente dos Planos de Saúde no ambiente de cuidados de saúde em ortodontia. Cada procedimento tem um código, cada companhia atrela um valor de honorário a cada código. Em lugar nenhum é feita um ajuste baseado na complexidade do caso. Isso cria uma mentalidade em nossos pacientes de que o cuidado em saúde, assim como uma lata de sopa em um supermercado, é uma mercadoria, e não um serviço profissional. Isso denigre como o público percebe ambas a arte e a ciência da atenção em saúde. A participação em um plano de saúde geralmente significa desconto nos honorários do profissional, e consultórios baseados nesse sistema não conseguem acompanhar os gastos do mundo real. para resolver esses problemas fiscais, as clínicas devem se tronar mais eficientes, pressionando o ortodontista a fazer mais barato, ser mais rápido, ver mais pacientes em menos tempo, e isso pode impactar negativamente na qualidade do cuidado em saúde. Nós queremos aceitável, ou preferimos excelência?

aristoteles

O segundo fator é a ressurreição de terapia ortodôntica removível, ao invés de fixa. Aparelhos removíveis e semi-removíveis são menos eficientes do que aparelhos fixos. Pesquisa considerável demonstrou que nas mãos de um especialista em ortodontia capacitado, pacientes tratados com aparelhos removíveis tiveram resultados pós-tratamento que se aproximaram mais dos padrões do board do que pacientes tratados com qualquer outro tipo de aparelho. Resultados com alinhadores podem ser aceitáveis, e há um lugar para eles no dicionário da ortodontia, mas o paciente deve ser informado dessas diferenças. Apesar dos resultados com alinhadores terem melhorado nos últimos 5 anos, ortodontia fixa ainda é o padrão ouro. Alinhadores e aparelhos ortodônticos não são tratamentos equivalentes, e os resultados finais são notadamente diferentes. E mesmo alinhadores provendo melhoria considerável, mas não alcançando resultados ótimos, a fase de retenção é ainda mais difícil do que em pacientes tratados com aparelhos ortodônticos. Nós queremos aceitável, ou preferimos excelência?

O terceiro, e mais extenuante, fator é a crença errada de que fazer um curso de alinhadores de 2 dias em um hotel é o equivalente a uma residência de +5.000 horas em ortodontia (sim, a carga horária lá nos EUA chega a ser 2,5x maior que a nossa e sabe o que o CFO faz quanto a isso?). Ou que uma atualização de ortodontia (ou qualquer área) é o equivalente a uma especialização na mesma área. Ou então, que atender o paciente ocasional de ortodontia, encaixado entre um preparo para coroa ou um exame de rotina resulta no mesmo tipo de experiência do que fazer nada além de ortodontia todos os dias, o dia inteiro. Aprender como solicitar aparelhos ortodônticos do laboratório não é o mesmo que aprender como fazer de maneira correta um diagnóstico, planejamento, e realmente tratar o paciente ortodôntico. Pesquisa demonstrou que enquanto o clínico geral que pratica ortodontia ocasionalmente pode atingir o resultado excelente, o nível de qualidade geral em um consultório de um especialista em ortodontia é maior do que o de um clínico geral, com menos tempo de tratamento, com melhor estabilidade e geralmente, um custo menor. O ortodontista é treinado para reconhecer crescimento normal versus aberrante, o caso com alteração de comprimento de arco, o caso de ser um tratamento dentário ou esquelético, o que iria se beneficiar de alinhadores ou de algo além, e muito mais. Ortodontistas fazem tratamento convencional, com alinhadores, ou qualquer modalidade de tratamento ortodôntico melhor do que não-ortodontistas. Nós queremos aceitável, ou preferimos excelência?

Como dentista, clínico geral ou especialista, nossa primeira consideração não deveria ser a qualidade de cuidado que conseguímos prover para nossos pacientes? Como um especialista em ortodontia, eu não faço clareamento pós ortodôntico porque sei que meu colega clínico geral pode fazer melhor, mais rápido e menos caro. Se um ortodontista pode corrigir uma má-oclusão mais rápido, melhor e com menos custo que um clínico geral, o paciente não estará sendo mais contemplado sendo encaminhado para um ortodontista? Se o paciente não é encaminhado, quem se beneficia? Quando que medíocre virou aceitável, especialmente quando a excelência está disponível logo ali? Eu acho que é hora de nós, membros da odontologia, voltarmos às normas de Barney Swain.

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