Espaçamento Progressivo dos Incisivos, o que é?

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Na sessão do ortodontista de hoje discutimos uma alteração de posicionamento dentário muito comum em pacientes adultos com comprometimento periodontal: Espaçamento Progressivo de Incisivos (EPI). A abordagem desses casos envolve um planejamento interdisciplinar, diferenciado do paciente adulto comumente encontrado no consultório ortodôntico.

Espaçamento progressivo dos incisivos

Espaçamento Progressivo dos Incisivos é uma condição periodontal descrita na literatura como uma migração patológica de dentes devido à alteração no equilíbrio de forças que mantêm a posição normal dos dentes 1 2 . Esse equilíbrio foi descrito por Proffit 3, como uma resultante nula de todas as forças que atuam sobre os dentes. Devido à perda de suporte ósseo em pacientes periodontalmente comprometidos, pode-se observar que o centro de resistência desses dentes tende à mudar, causando alteração no equilíbrio ortodôntico e ocorrendo a atuação de forças indeséveis 4.

ortodontia alteração centro de resistência
A perda de suporte periodontal leva à alteração no centro de resistência do dente

Diagnóstico ortodôntico

É importante diferenciar o movimento dentário considerado patológico do fisiológico. Enquanto o apinhamento pode ser considerado uma movimentação fisiológica devido à pressão muscular sobre os dentes e que ocorre com a idade, o surgimento de espaços progressivo é patológico e progressivo, e geralmente se dá por alterações no suporte ósseo desses dentes, sendo sua etiologia de origem exclusivamente periodontal 4. A prevalência desse espaçamento é significante em pacientes com periodontite moderada e severa.

De acordo com Melsen, o ortodontista deve diferenciar os diversos tipos de espaçamentos pela sua etiologia, não sendo considerados EPI as seguintes condições:

  • Dentições que sempre tiveram espaçamentos por discrepâncias de tamanho
  • Alterações devido à parafunções da língua
  • Espaços devidos à ausências dentarias por extração ou agenesia
  • Dentições com hiperplasia gengival.

Apresentação clínica

Além do espaçamento entre os incisivos e comprometimento periodontal, pacientes com EPI apresentam com certa frequência mordida profunda e mutilação. A mordida profunda quando em conjunto com overjet devido à proclinação de incisivos pode ser um desafio a mais para o ortodontista, pois requer um controle vertical do caso para sua resolução.

Apesar de sua etiologia ser de origem periodontal, é necessária a atuação do ortodontista em uma abordagem multidisciplinar com a periodontia e reabilitação para a correção do caso. Pacientes com perdas dentárias posteriores tendem a desenvolver EPI com mais facilidade 1.

espaçamento periodontal incisivos
Exemplo de espaçamento progressivo em um período de 4 anos. (Melsen et al)

Opções de tratamento

Após estabelecida a terapia periodontal e o planejamento interdisciplinar, o ortodontista deve avaliar como será a abordagem do posicionamento dos incisivos. Para isso deve-se levar em conta o overjet e overbite, proclinação dos incisivos e tipo facial do paciente.

Pacientes verticais necessitam maior controle vertical, geralmente com intrusão de incisivos inferiores para correção da mordida profunda. Pacientes horizontais ou com colapso da dentição posterior podem precisar de um levantamento da mordida para recuperar a dimensão vertical e corrigir a mordida profunda. Avaliação do sorriso do paciente é importante para verificar a exposição de incisivos superiores.

Devido ao comprometimento periodontal desses pacientes, é necessário muito cuidado no controle de momentos e forças aplicadas.

Quando a intrusão de incisivos é indicada, forças leves devem ser aplicadas, pois movimentos intrusivos tendem a causar mais reabsorções 5 6 e os incisivos são especialmente susceptíveis 7 . Forças de 20g durante a intrusão de incisivos superiores e até metade desse valor para incisivos inferiores são recomendadas 4.

A intrusão pode ser especialmente benéfica nesses casos, incisivos intruídos passam por alterações na sua crista óssea marginal. Cristas planas tendem a se tornar afiladas, sendo melhores para serem submetidas a terapia de regeneração periodontal 8 .

Contenção ortodôntica

Pacientes ortodônticos adultos, especialmente com comprometimento periodontal devem se submeter à contenção ad eternum, pois têm maior chances de recidiva. O acompanhamento periodontal desses pacientes também é importante e eles devem ser motivados a continuar com a terapia periodontal durante e após o tratamento ortodôntico.


Bibliografia

  1. MARTÍNEZ-CANUT P. CARRASQUER A. MAGAN R. LORCA A. A study on factors associated with pathologic tooth migration. J Clin Periodontol 1997; 24: 492-497
  2. CHASENS AI Perdiodontal disease, pathologic tooth migration, and adult orthodontics. N Y State Dent J 1979; 49: 40-43.
  3. Proffit W. Fields R Ortodontia contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995
  4. Melsen, B. Adult Orthodontics (2012) John Wiley & Sons, Ltd., West Sussex, UK
  5. REITAN K. Initial Tissue Behavior During Apical Root Resorption. The Angle Orthodontist 1974 44:1, 68-82
  6. HARRIS DA, JONES AS, DARENDELILER MA. Physical porperties of root cementum: part 8. Volumetric analysis of root resorption craters after application of controlled intrusive light and heavy orthodontic forces: A microcomputed tomography scan study. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006; 130: 639-47.
  7. CASTRO IO, ALENCAR AHG, VALLADARES-NETO J. ESTRELA C. Apical root resorption due to orthodontic treatment detected by cone beam computed tomography. The Angle Orthodontist 2013 83:2, 196-203
  8. CAO T. XU L. SHI J. ZHOU Y. Combined orthodontic-periodontal treatment in periodontal patients with anteriorly displaced incisors. Am J Orthodontics and Dentofacial Orthopedics 2015; 148:805-813