Comunicação – Dúvidas frequentes de pacientes

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Comunicação é a arte de ser entendido.

Peter ustinov

Depois de um recesso bastante prolongado, o blog está de volta (agora espero que para valer). E para reinaugurar acho que um tema bem adequado seria justamente Comunicação.

Depois de três anos escrevendo (agora em fevereiro o blog completou seu terceiro ano), acho que tive bastante contato com pacientes para poder ter uma opinião sobre as suas dúvidas mais frequentes. Uma coisa que me chamou a atenção foi o fato de que nós, ortodontistas, tendemos a ser um pouco falhos na comunicação com nossos pacientes. Talvez por isso eu receba tantas perguntas aqui no blog. Até a data de publicação deste artigo já foram respondidas aproximadamente 300 perguntas de pacientes, sem contar as enviadas por outros meios como e-mail, facebook e instagram.

E o que eles querem saber?

As 5 mais frequentes dúvidas de nossos pacientes (na minha opinião)

1. Mobilidade dental e aparelho ortodôntico

Passo bastante tempo respondendo a pacientes que estão relatando mobilidade dentária devido a aplicação de forças com o aparelho ortodôntico. Essa mobilidade nem sempre é somente devido a aplicação de forças, mas também relacionada a prematuridades oclusais transitórias decorrentes da alteração da posição dos dentes.

Algumas vezes, na rotina corrida de nosso consultório, esquecemos de avisar aos pacientes sobre alguns efeitos esperados do tratamento ortodôntico, como mobilidade dental e reabsorções radiculares (um outro tema bem mais sério). Talvez manter um protocolo ou cartilha com informações sobre esses efeitos para informar nosso paciente ao início do tratamento seja interessante.

2. Dentes permanentes que não irrompem

Essa talvez não caia só na conta do ortodontista, mas é também uma responsabilidade dividida com os odontopediatras. Muitas mães e pais de pacientes relatam dúvidas quanto a sequência e tempo de irrupção de dentes de leite.

Eu sempre recomendo que um odontopediatra acompanhe o caso e que a partir dos seis anos será interessante também que um ortodontista o faça. De qualquer maneira, é um tema que preocupa muitos pais.

3. Alterações de linha média e linha mediana

Nossos pacientes são observadores, principalmente quando se trata dos social six (incisivos e caninos) e o desvio de linha média é um assunto que acabo abordando muito no blog. Vários pacientes se queixam de estarem próximos do final do tratamento ou prestes a remover o aparelho ortodôntico com um desvio de linha média presente.

Uma das razões para essa falha nossa é nossa tendência de avaliar o paciente deitado na cadeira e geralmente em uma posição às “12 horas”. O recomendado por alguns autores seria avaliar o paciente de frente, afinal, é assim que ele se vê no espelho.

4. Problemas relacionados a documentação odontológica

Essa me pegou um pouco de surpresa. Mas enviam muitas perguntas sobre isso.

O código de ética estabelece no inciso primeiro do artigo 18 que o cirurgião-dentista não pode negar acesso ou cópia do prontuário para o paciente, mesmo sendo do CD a posse desses documentos. Isso inclui documentação radiológica.

Muitos pacientes me perguntam se ao pedir transferência de um profissional para o outro, o primeiro profissional tem o direito de negar ceder a documentação (o que está indo contra o disposto no código de ética). Alguns desses colegas optaram por dar a documentação no início do tratamento com fim promocional (o que é proibido pelo código de ética) e querem cobrar quando o paciente solicita a transferência para outro profissional. Se o profissional optou por dar a pasta, não tem como cobrar ela depois, não é?

5. Etapas do tratamento ortodôntico

Para nós, as etapas de um tratamento (alinhamento e nivelamento, correções transversas, sagitais e verticais, finalização e contenção) são bem claras. Mas nos esquecemos muitas vezes que nossos pacientes não são ortodontistas e esses conceitos acabam sendo complexos para eles.

Talvez se investíssemos mais em comunicação com nossos pacientes, para deixá-los a par do diagnóstico e planejamento do caso, esse problema seria solucionado facilmente. Isso é especialmente importante em casos que envolvem decisões mais complexas como extrações, cirurgia e procedimentos coordenados com outras especialidades.

6. Uso de elásticos

Para nós que trabalhamos com isso há anos, indicar um elástico é um procedimento bem corriqueiro. Porém, para muitos pacientes é algo inédito e motivo de bastante confusão.

Na primeira consulta com o paciente, seja bem claro sobre o uso do elástico: como colocar, quando usar, quando trocar por um novo. Anote, mostre no espelho, deixe que ele tire foto com o celular. A única postagem sobre elásticos do blog é para especialistas, mas está cheia de comentários de pacientes com dúvidas.

O uso incorreto de elásticos pode ser ineficiente no melhor dos casos e um retrocesso para o tratamento no pior deles; vale a pena gastar uns minutos a mais para que o paciente não tenha dúvidas.

Só a ponta do iceberg

Existem muito mais perguntas e dúvidas de pacientes de colegas, mas a maior parte delas pode ser resolvida com algo bem simples: comunicação. Não se perde tempo com esclarecimento, orientação e educação, se investe.
Lembre-se que seu paciente está te pagando principalmente pelo conhecimento que você adquiriu, então faça isso valer.
Seus pacientes têm dúvidas, só que eles nem sempre te perguntam e acabam perguntando para outros colegas, amigos ou até mesmo na internet. A minha orientação em geral para esses pacientes é: converse com seu ortodontista, ele está a par do seu caso e é a melhor pessoa para te ajudar.