Reabsorções radiculares na ortodontia são um tema de relevância para todo clínico. E devido ao importante aspecto litigioso e às limitações que elas podem trazer ao resultado final, o ortodontista clínico deve saber se preparar e se prevenir.
Os dentes mais afetados são os incisivos superiores e inferiores. O melhor exame de imagem para avaliar a presença de reabsorções é a tomografia computadorizada de feixe cônico, pela sua maior precisão e por não haver sobreposição de estruturas, como na radiografia periapical. Reabsorções radiculares podem ser observadas a partir de 3 meses da movimentação dentária.
De acordo com o Dr. Alberto Consolaro, planejamento defensivo para o tratamento ortodôntico são as medidas tomadas durante o diagnóstico e planejamento para se antecipar à possíveis reabsorções radiculares na ortodontia.
É importante uma linguagem clara e direta com o paciente e um consentimento informado que explique os riscos e efeitos colaterais do tratamento ortodôntico. Uma boa comunicação, baseada em evidência científica sólida é fundamental quando se passa o diagnóstico e planejamento do caso. Quem fala antes setá explicando, quem fala depois está se desculpando.
Lista de fatores preditivos para reabsorções radiculares na ortodontia
No diagnóstico ortodôntico
Traumatismo dentário prévio
Procure por trincas, fraturas, dentes escurecidos , grandes restaurações e tratamento endodôntico sem relação com lesões de cárie. Os pacientes se esquecem frequentemente de relatar traumatismos na anamnese. Insista nessa investigação.
Reabsorção dentária não ortodôntica já existente
Faça uma análise minuciosa de reabsorções radiculares existentes em pacientes que ainda não passaram por tratamento ortodôntico. Tenha em mente que radiografias periapicais tendem a resultar em “falsos positivos”.
Raízes triangulares
Dentes com raízes triangulares estão mais sujeitos a reabsorções radiculares. Tome cuidado com a aplicação de força nesses dentes.
Ápices afilados e ápices com dilaceração radicular
Dentes com ápices muito finos tendem a acumular muita força em uma região menor, o que pode causar mais danos à camada de cementoblastos. E ápices com dilaceração radicular também devem receber menos forças ortodônticas.
Raízes curtas com menos de 1,6 vezes a coroa
Isso vale mesmo para dentes multirradiculares. Essas raízes podem sofrer com mais intensidade os efeitos da reabsorção radicular.
Crista óssea alveolar retangular
Cristas ósseas triangulares defletem mais e absorvem melhor as forças ortodônticas. O contrário acontece com cristas ósseas retangulares, que concentram mais forças no ligamento periodontal, dando mais chances de lesões da camada de cementoblastos.
Planejando o tratamento ortodôntico
Movimentos extensos, extrações dentárias e elásticos intermaxilares.
Tratamentos que envolvem extrações usam forças mais pesadas e as movimentações são mais extensas, dois fatores que propiciam reabsorções radiculares. E ainda não se sabe bem o motivo, mas as forças causadas por elásticos intermaxilares também têm uma associação com esse efeito colateral.
Movimentos intrusivos
A intrusão é o movimento dentário mais associado à reabsorção radicular. Isso ocorre devido à maior concentração de forças nos ápices radiculares. As forças durante a intrusão devem ser bem leves. Em incisivos inferiores, o ideal é de 5 a 20g por dente.
Tempo de tratamento
Apesar de haverem divergências na literatura, pode ser interessante um acompanhamento mais cuidadoso em casos com longa duração.
Retratamento ortodôntico
Quando você estiver fazendo um retratamento de um caso, especialmente os que não foram inicialmente tratados por você, recomenda-se acompanhamento radiográfico e cautela. Afinal, você não sabe a conduta do profissional anterior e qual a resposta do paciente a um novo tratamento ortodôntico. É importante se prevenir para que uma eventual “bomba” exploda na sua mão.
Ancoragem cortical e áreas ósseas densas e esclerosadas
Recomenda-se um bom controle de forças com esse método muito usado na terapia bioprogressiva. A ancoragem cortical “joga” as raízes dos dentes em osso mais denso. Com isso, há mais pressão sobre o ligamento periodontal, lesando mais a camada de cementoblastos. O mesmo ocorre em áreas ósseas densas ou esclerosadas.
Conclusão
Essa checklist de predisposição à reabsorção radicular pode ser útil para o clínico se prevenir e se necessário fazer um acompanhamento radiográfico minucioso de dentes com mais predisposição às reabsorções radiculares na ortodontia.
Acho que esse é um problema que todo ortodontista vai passar algum dia e é sempre melhor estar preparado do que ser surpreendido. O único ortodontista que nunca teve que enfrentar um problema de reabsorções radiculares é aquele que nunca faz acompanhamento radiográfico dos seus casos.
Referências
1. FREITAS JC, LYRA OCP, ALENCAR AHG, ESTRELA C. Long-term evaluation of apical root resorption after orthodontic treatment using periapical radiography and cone-beam computed tomography. Dental Press J of Orthod 2013; 18(4): 104-12.
2.CONSOLARO A. Reabsorção dentária nas especialidades clínicas, 2ª ed. Dental Press, Maringá. 2005.
3. BREZNIAK N. WASSERSSTEIN A. Root resorption after orthodontic treatment: Part 1. Literature Review. Am J Orthod 1993; 103(1): 62-66.
4. BREZNIAK N. WASSERSSTEIN A. Root resorption after orthodontic treatment: Part 2. Literature Review. Am J Orthod 1993; 103(2): 138-146.
4. MELSEN B. Adult Orthodontics, 1 ed. Wiley-Blackwell, New Jersey. 2012. Arquivo EPUB.
Cirurgião-dentista, especialista em ortodontia pela ABO-GO com 10 anos de experiência. Mestre e doutorando em ciências da saúde pela UFG. Professor nas universidades Fasam e Integra, membro da diretoria da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-GO). Credenciado no sistema Invisalign e apaixonado por ensino, música e tecnologia. Artigos publicados neste blog, sites e revistas científicas.