Durante o X Congresso de Ortodontia da Associação Brasileira de Ortodontia o blog Ortodontia Descomplicada conseguiu uma entrevista com o presidente da American Association of Orthodontists, Morris Poole. Foram abordados temas como a diferença na formação do Ortodontista nos Estados Unidos e no Brasil, carga horária e quantidade de cursos.
Pela entrevista podemos traçar um paralelo interessante entre nossa educação e dos EUA e refletir: Será que a ortodontia brasileira está no rumo certo?
A educação do Ortodontista nos Estados Unidos.
Ortodontia Descomplicada – Nos Estados Unidos, vocês tem cursos de ortodontia com maior duração e em menor quantidade do que no Brasil. Quantos anos leva em média para que um profissional se especialize em ortodontia.
Morris Poole – Temos 4 anos de graduação em odontologia, seguidos por aproximadamente 4 anos de pós-graduação em ortodontia. Os alunos também tem a opção de 2 a 3 anos de mestrado.
OD – Esses cursos são diários?
MP – Os cursos de ortodontia são diários, durante todas as semanas. Os alunos estão ou na clínica ou estudando todos os dias. O único momento que eles têm livre é o fim de semana. Eles não trabalham, se dedicam apenas à sua formação.
OD – Quantas horas seriam no total?
MP – Apesar de não pensarmos tanto em horas quanto em créditos, pode-se dizer que um estudante precisaria de 5000 horas somente no curso de especialização. Outro aspecto importante é que os pacientes pagam pelo tratamento em clínicas de cursos de especialização, o que ajuda a manter o programa. Então é importante que hajam muitas horas-clínica, pois assim o curso se mantém e os alunos aprendem.
OD – A Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR) conseguiu junto ao Conselho Federal de Odontologia (CFO) que se elevasse a carga horária de 1000 para 2000 horas para o registro de especialista em ortodontia. Recentemente o CFO voltou atrás e diminuiu para 1500 horas, indo na contramão das tendências mundiais.
MP – Também temos pessoas nos EUA que querem levar a educação em outra direção. Temos escolas que são focadas apenas no lucro, que foram criadas com o objetivo de lucrar e formar ortodontistas para grandes clínicas, que seguem o modelo empresa. Temos que ter muito cuidado com isso. Nossos Conselhos de Certificação, que autorizam as escolas é um pouco fraco e estamos tentando fortalece-los.
OD – Você acredita que a quantidade de escolas e ortodontistas consegue suprir a demanda atual dos Estados Unidos?
MP – No momento sim. Provavelmente temos um pouco de excesso até. Uma de nossas preocupações é que colegas clínicos-gerais estão se interessando pela ortodontia não por quererem ajudar os pacientes tanto quanto por quererem lucrar com isso. E é um pouco triste, pois se você realmente é um cirurgião dentista ou alguém que preocupa com seus pacientes, você deveria dar a eles todas as possibilidades e uma dessas possibilidades seria a de procurar um especialista. Mesmo que digam “eu quero que você peça a opinião de um especialista e depois volte no meu consultório”. Mas nem isso eles fazem, e é algo que um verdadeiro profissional faria.
OD – A AAO tem algum tipo de poder fiscalizatório sobre os cursos de ortodontia?
OD – Qual seria seu conselho para o clínico geral que deseja seguir a especialidade da Ortodontia?
Atualização: Pouco tempo após essa entrevista, o CFO reduziu a carga horária de cursos de especialização em Ortodontia para 1500 horas. Contrariando a recomendação da ANEO (Assembléia Nacional de Especialidades Odontológicas) e da ABOR.
Cirurgião-dentista, especialista em ortodontia pela ABO-GO com 10 anos de experiência. Mestre e doutorando em ciências da saúde pela UFG. Professor nas universidades Fasam e Integra, membro da diretoria da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-GO). Credenciado no sistema Invisalign e apaixonado por ensino, música e tecnologia. Artigos publicados neste blog, sites e revistas científicas.