Aparelho ortodôntico encurta a raiz do dente??!
É uma dúvida que surge principalmente quando o diagnóstico é dado ao paciente ou ele lê no termo de consentimento informado do tratamento: “Um dos efeitos colaterais do tratamento ortodôntico pode ser a reabsorção radicular (ou encurtamento da raiz do dente).”
Aparelho ortodôntico encurta a raiz do dente?
A resposta é sim.
A esse encurtamento da raiz do dente, damos o nome de reabsorção radicular, ou remodelação apical e ele acontece em todos os tratamentos ortodônticos, sem exceção. O aparelho ortodôntico encurta sim, a raiz do dente!
O encurtamento da raiz do dente pode ser considerado o “pedágio” da movimentação dentária. Damos e ele o nome de custo biológico, o preço que o corpo paga pelo tratamento ortodôntico. Todo tratamento de saúde tem em algum nível um efeito indesejado, chamado de efeito colateral. No tratamento ortodôntico, esse é o principal deles.
Muitas vezes esse processo de reabsorção é discreto, não prejudicando o paciente. Esse é o caso da maior parte dos pacientes e os próprios laudos radiográficos de acompanhamento durante o tratamento anotam: “reabsorção radicular compatível com movimentação ortodôntica”.
O que é importante é que o paciente esteja ciente antes de se iniciar o tratamento ortodôntico que esse efeito indesejável vai aparecer e é inevitável. Daí a importância de uma consulta inicial bem realizada, um planejamento e diagnóstico minuciosos por parte do ortodontista e uma conversa franca entre o profissional e você paciente antes de iniciar o tratamento, para esclarecer todos pormenores do tratamento ortodôntico.
Mas e se encurtar muito a raiz do dente?
Porém, por motivos ainda não completamente entendidos pela ciência, alguns pacientes sofrem mais com esse problema, passando por processos de reabsorção bem severos, em alguns casos chegando a ser preciso interromper o tratamento ortodôntico.
Mas parar o tratamento?!
Sim. Essa é uma atitude que deve levar em consideração o custo-benefício do tratamento ortodôntico. E se o custo ultrapassar o benefício, pensando no bem maior do nosso paciente, devemos conversar com ele e se preciso, sugerir a interrupção do tratamento.
Infelizmente, boa parte do que diz respeito a reabsorções radiculares está fora do nosso alcance. Ainda não é um fenômeno completamente entendido. É uma limitação da ciência ortodontia, não do ortodontista.
Como eu, paciente, posso ajudar?
Nós ortodontistas sabemos que existem alguns sinais que podem ser observados tanto no exame clínico quanto no radiográfico que nos dão indícios do risco de reabsorção radicular de um paciente (existe um artigo para especialistas sobre isso nesse blog e uma entrevista com alguém que estudou bastante o tema, mas são voltados para especialistas e com linguagem mais técnica). Mas nem tudo é visível em uma película de raio-x.
Existem algumas informações que você, paciente, pode nos passar para nos ajudar. A mais importante delas é se você já passou por algum tipo de traumatismo na face, principalmente se envolver os dentes. Não importa a época ou o tipo de trauma, é importante que você relate qualquer um que se lembrar: acidentes de carro, esportivos, quedas, brincadeiras em férias e tudo mais que envolver a boca e região dos dentes.
Dentes que sofreram traumatismos estão sujeitos a uma quantidade maior de reabsorção radicular e devem ter um acompanhamento radiográfico mais cuidadoso por parte do ortodontista. Pode também ser a causa de perda da vitalidade pulpar: traumatismos mais severos podem romper o fluxo de irrigação sanguínea que nutre a polpa do dente (a parte interna do dente, viva), com o tempo ela acaba morrendo, isso deixa o dente escuro e muitas vezes pode ser necessário o tratamento de canal. Isso também pode ocorrer durante o tratamento ortodôntico.
E vale sempre lembrar: se passar por algum tipo de traumatismo durante o tratamento ortodôntico, informe seu ortodontista. Isso é importante, pois ele precisará fazer o acompanhamento do dente.
Cirurgião-dentista, especialista em ortodontia pela ABO-GO com 10 anos de experiência. Mestre e doutorando em ciências da saúde pela UFG. Professor nas universidades Fasam e Integra, membro da diretoria da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-GO). Credenciado no sistema Invisalign e apaixonado por ensino, música e tecnologia. Artigos publicados neste blog, sites e revistas científicas.
